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William Deresiewicz: “Não mande seus filhos para uma Ivy League”

William Deresiewicz: “Não mande seus filhos para uma Ivy League”

Por Tissiane Vicentim, G.A.T.E. Team

O escritor, editor e professor William Deresiewicz tinha 35 anos quando comprou seu primeiro imóvel: uma casa que precisava de reformas. Ele estava parado em sua cozinha, de frente para o trabalhador que consertaria sua residência, quando se deu conta que não conseguia estabelecer uma conversa com ele. Só algumas poucas palavras foram trocadas antes do serviço começar.

A partir desse “estalo” surgiu o artigo The Disadvantages of an Elite Education, ou As Desvantagens de uma Educação de Elite, publicado em 2008 pela revista The American Scholar e que ganhou a atenção de muitos estudantes e educadores, sendo compartilhada na rede mundial de computadores mais de um milhão de vezes. O artigo deu origem ao livro Excellent Sheep: The Miseducation of the American Elite and the Way to a Meaningful Life e a uma discussão que ele provocaria pelos próximos anos: a de que escolas de elite não são boas para formar cidadãos conscientes, com um propósito de vida. O autor foi um dos destaques da programação do G.AT.E. 2015, e sua palestra “Líderes Visionários e o Papel da Educação” – na qual ele tratou desta constatação – foi uma das mais polêmicas e concorridas.

Apesar de criticar as instituições, Deresiewicz tem como alma mater uma das mais bem conceituadas integrantes do seleto grupo conhecido como Ivy League: ele é graduado em biologia e psicologia pela Columbia University, fez seu mestrado em jornalismo e é PhD em inglês pela mesma instituição. Além disso, ele foi professor por dez anos em Yale e instrutor de pós-graduação na Columbia por cinco anos.

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Todo esse tempo de formação intelectual e atuação no meio acadêmico o fez perceber que as escolas de elite – em especial àquelas que compõem a Ivy League – estavam, na verdade, criando o que ele chama de “excellent sheep”, ou excelentes ovelhas, em tradução livre.

Tais “ovelhas” nada mais são do que os alunos, pessoas extremamente talentosas e inteligentes, mas também “ansiosas, tímidas e perdidas, com pouca curiosidade intelectual e sem qualquer senso de propósito: presas em uma bolha de privilégios, indo lentamente na mesma direção, grandes no que fazem mas sem a menor ideia do porquê estão fazendo”, como definiu em seu polêmico artigo.

Aprender a pensar

Deresiewicz afirma que o período em que os alunos passam na faculdade é a melhor época para aprender a pensar – se não a única época. Pensar de forma crítica e ampla é um treino que se não for iniciado antes de se conseguir o tão almejado diploma de Bachelor of Arts, é muito improvável que o aluno o fará mais para frente. “Por esse motivo é que uma experiência de graduação voltada exclusivamente à preparação da carreira é o mesmo que desperdiçar quatro anos”, afirmou ele em outro artigo intitulado Don’t Send Your Kid to the Ivy League, publicado pela revista The New Republic.

Infelizmente as escolas de elite perderam a essência de ensinar os alunos a pensarem e a construírem suas “almas”, segundo Deresiewicz. O que as grandes instituições de ensino norte-americanas fazem hoje é ensinar pensamentos analíticos e habilidades retóricas que serão valorizadas em suas profissões – e apenas isso. “Nossas melhores universidades se esqueceram que a razão de existirem é criar mentes, e não carreiras”, diz ele.

Para tornar o cenário ainda pior, o especialista afirma que as escolas de elite estão transformando seus alunos em zumbis. Afinal, desde antes de serem aprovados, o sistema de seleção exerce sobre os alunos um estresse psicológico enorme e, diferente do que muitos podem afirmar, fora do aceitável. “Estamos colocando essas crianças sob um tipo de pressão que nenhum jovem deveria ter que suportar, e muitos deles sucumbem”, afirma Deresiewicz. Na realidade, de acordo com ele, os alunos aprendem nas escolas de elite que não podem aceitar ser menos do que “os melhores”.

As escolas não “envolvem os alunos ou os ensina a serem mais curiosos, a correr riscos ou a cometer falhas”, diz. E o resultado disso é desastroso. “Tão extremos estão os padrões do processo admissional atualmente que os jovens que conseguem entrar em escolas de elite, por definição, nunca experimentaram outra coisa que não o sucesso. A possibilidade de não ser bem-sucedido os aterroriza, os desorienta. O custo de falhar, mesmo que temporariamente, se torna um problema existencial”, afirma Deresiewicz. “O resultado é uma violenta aversão ao arriscar. Você não tem uma margem de erro, então você evita a possibilidade de cometê-lo.”

Claro que estudar em escolas de prestígio abrirão muitas portas no futuro, mas o grande problema para o crítico e professor são aquelas que se fecham com um diploma de elite. “Como eu poderei ser um professor de escola primária – isso não seria desperdiçar a minha caríssima educação? Eu não estaria jogando fora as oportunidades que meus pais deram duro para me oferecer? O que os meus amigos pensarão? Como irei encarar os meus colegas de classe na reunião de 20 anos, quando todos são advogados ricos ou pessoas importantes de Nova York? E a questão principal por trás disso tudo: isso não estaria abaixo de mim? Então um universo de possibilidades se fecha, e você perde a sua verdadeira vocação”, afirma o escritor.

Ele conta ainda que, durante os seus anos de Ivy League, teve o prazer de lecionar e aprender com alunos brilhantes, inteligentes, criativos, mas que em sua maioria se contentavam o futuro certo que estava traçado para eles. “Pouquíssimos eram apaixonados por ideias. Pouquíssimos viam a faculdade como parte de um projeto maior de descoberta e desenvolvimento intelectual. Todos se vestiam como se estivessem prontos para uma entrevista surpresa”, conta.

Deresiewicz acredita que mais vale estudar em uma escola que não tenha tanto peso, mas que ensine o aluno a traçar propósitos e a alcançar uma alma completa, do que ter uma das Ivies no currículo. “Jovens em escolas de menor prestígio são mais interessados, mais curiosos, mais abertos e bem menos competitivos e esnobes”, afirmou.

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