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OK, mas você gosta de ler?

Em uma conversa com um aluno meu que começou sua primeira semana em Brown como um um talento promissor das ciências da computação, fiquei surpreso quando ele compartilhou a quantidade (enorme!) de leitura indicada para seus primeiros semestres. Eu sei que não será um problema para ele, no entanto. Veja você: como um futuro cientista da computação, ele é mais do que capaz, tanto que estagiou no Google no verão passado (depois de recusar uma oferta igualmente interessante da Microsoft). Mas, como estudante, ele é igualmente forte. Na verdade, grande parte de sua dedicação é direcionada a outra área que não é a que ele estuda, mas a outra paixão: a literatura russa.

Não. Seja lá o que você está pensando, não. Ele é do México. Ele é divertido. Ele tem uma vida. Ele não é muito parecido com nenhum de seus pais no que diz respeito aos interesses, mas se comunica bem e tem uma ética de trabalho que poderia corresponder à de qualquer um. Ele é naturalmente inteligente? Claro. Será que ele tem uma energia insaciável para melhorar a si mesmo e descobrir novos interesses? Certamente. E mesmo que isso não descreva todos os alunos de sua turma em Brown, com certeza descreve muitos deles. Mas o que sabemos é que, em qualquer campo do conhecimento que estudem ou lugar do mundo em que estejam, estes jovens compartilham uma característica marcante de aprendizado: são sólidos leitores.

Isso não significa que eles leem o tempo todo e ninguém diria que nunca usaram as anotações de Cliff, da obra-prima de Mark Twain, como citação. Mas o fato é que eles são capazes de citar Huckle Berry Finn e escrever um ensaio de oito páginas sobre como o este romance marca a posição de Twain como defensor da Guerra da Secessão. Eles leem. Eles sempre o fizeram e fazem isso muito bem. Quando perguntaram a Drew Gilpin Faust, diretor de Harvard, o que um pai poderia fazer para ajudar um filho a ter uma chance de admissão em sua sua instituição, sua resposta foi simples: ser um garoto interessante.

Então, o que torna um garoto interessante? Esta é a questão do dia. Esta característica vem de uma grande variedade de estilos, talentos, hobbies e compromissos, mas uma coisa é um pré-requisito garantido: livros. Porque a partir do momento em que você acha que seu filho é inteligente o suficiente e tem as qualidades necessárias para entrar em Harvard, mas ignora o fato de que ele odeia ler e simplesmente não o faz, alguma coisa está errada. E isso ficará evidente para a pessoa que lerá a ficha de admissão dele.

Uma família pode contratar alguém para ensinar um aluno do  9º ano e que poderia, de fato, transformá-lo em um estudante de ponta. Mas isso não significa que este aluno realmente gosta de ler ou, melhor ainda, é interessante. Na verdade, você quase pode apostar contra a última hipótese. Se o adolescente não tem afinidade com a leitura quando entra no ensino médio, será realmente difícil transformá-lo em uma amante da literatura mais adiante.

A rapidez do ensino médio não permite que os adolescentes mudem todo o paradigma que vinham mantendo até então. Esta época se move a uma velocidade que faz com que os estudantes fiquem no caminho onde estão, que é o de menor resistência. Mudar os hábitos neste momento é realmente uma tarefa de Sísifo.

E é isso que define a adolescência: a diferenciação, o processo de fazer com que esses jovens tomem decisões por si mesmos. Alterar todo um estilo de aprendizagem, os hábitos de estudo ou a abordagem com que isso é feito provoca um grande caos para a maioria das pessoas. E quando um adolescente está apenas se preocupando em passar de ano, esta é a última proposta que ele vai querer considerar.

Na verdade, o que acontece na maioria das vezes quando os estudantes vêm a mim determinados a mudar seus hábitos, é que eles se dão conta de como serão limitadas as suas opções no que diz respeito à universidade, com base em seu desempenho passado. Eles começam a internalizar a pressão do processo de admissão, que eles passam a projetar em alguém, no caso eu. Em outras palavras, geralmente perto do meio do 11º ano, ouço todos os tipos de estudantes dizendo que querem ficar “no caminho certo”. Uma das primeiras perguntas que fareu numa conversa inicial: você está aberto a algumas recomendações de livros?

Se um aluno diz “sim”, eu continuo esperançoso de que ele está realmente comprometido em mudar. Se  diz “não”, começo a focar em outros pontos fortes e debater opções acadêmicas alternativas. Entretanto, este será um estudante que quer fazer mais com menos. Ele quer ter oportunidades e opções de escolha com o mínimo esforço. Ele não é realmente um aluno diferente e nem está interessado em sê-lo. Ele é um adolescente. Ele é um garoto normal. Ele não gosta de ler. Sinto dizer, mas Harvard não vai considerá-lo interessante. E não há nada que ele possa fazer para disfarçar isso.

*Brady Norvall é  counselor e mentor no STB University Counseling.

(Créditos da imagem: “Books 6”, por Brenda Starr; a foto original foi recortada antes de ser publicada nesse site)

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