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A luta de Malala

Aos 11 anos, Malala Yousafzai começou a escrever um diário na BBC, onde narrava sua batalha em continuar os estudos sob o domínio do Talibã no Paquistão. Aos 15, já conhecida por seu posicionamento a favor da educação feminina – assunto considerado tabu em seu país –, ela foi baleada na cabeça por defensores do regime. No último dia 10, aos 17, Malala foi a primeira adolescente a receber o Prêmio Nobel da Paz, graças à sua incansável luta pelo direito de milhares de meninas de vários cantos do mundo a terem acesso à educação, e utilizá-la como um poderoso instrumento de mudanças sociais e pessoais.

Inicialmente anônimo, o blog Diary of a Pakistani schoolgirl chamou a atenção do mundo para a situação vivida pelas jovens determinadas a continuarem seus estudos sob a mira constante do Talibã. O pseudônimo escolhido por Malala, Gul Makai, nome de uma heroína de um conto popular pashtun (etnia do leste e no sul do Afeganistão e, no Paquistão), logo cedeu lugar ao da adolescente, que rapidamente se tornou conhecida em seu país.

A postura firme e determinada da menina era amplamente apoiada por sua família, sendo seu próprio pai, Ziauddin, um defensor da causa da educação, por meio da escola particular que dirigia no vale do Swat, onde viviam os Yousafzai. Em um perfil publicado na revista Vanity Fair em 2013, o pai de Malala é apontado como um dos principais incentivadores da filha em continuar aprendendo tudo o que fosse possível.

Em 2012, a menina já era bem conhecida em seu país e em grande parte do mundo. Numa tarde de outubro daquele ano, quando voltava da escola com outras crianças no noroeste do vale de Swat, o ônibus em que ela viajava foi invadido por um pistoleiro do Talibã. Malala foi baleada na cabeça, além de outros dois estudantes que também estavam no veículo. A bala atingiu a sobrancelha esquerda da garota e, em vez de penetrar o crânio, viajou por debaixo da pele, passando pela lateral de sua cabeça e por seu ombro.

Foi neste momento que a luta de Malala – pela educação e pela vida – se tornou um tema mundial. Ela passou por uma cirurgia delicada para a retirada da bala de sua face em um hospital militar paquistanês. Em seguida, com a ajuda de autoridades internacionais, foi levada para o Queen Elizabeth Hospital, na cidade de Birmingham, no Reino Unido, para receber um tratamento especializado e uma placa de titânio, além de um implante coclear para ajudá-la a recuperar a audição.

Novo começo

Vivendo com a família no Reino Unido deste então, Malala tem uma vida muito diferente da que viveu anteriormente, quando era apenas uma voz solitária e anônima defendendo um dos direitos mais fundamentais de todas as crianças. Desde que teve alta do hospital e completou sua recuperação com inacreditável êxito, em março de 2013, a adolescente passou a frequentar a Edgbaston High School, e seu pai recebeu um cargo no consulado do Paquistão em Birmingham, onde poderá ficar por três anos.

Seu primeiro pronunciamento público aconteceu nove meses após o ataque, em seu aniversário de 16 anos, quando fez um discurso na Assembleia de Jovens da Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, a menina reafirmou que o terrorismo não a calará e pediu mais esforços globais para permitir que as crianças tenham acesso à escola. “Eles pensaram que a bala iria nos silenciar, mas eles falharam. Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas. A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar”, discursou Malala.”Os terroristas pensaram que mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram”, completou, emocionando a audiência.

O reconhecimento por sua luta veio logo. Ainda em 2011, Malala foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz Internacional da Criança pela Fundação Kids Rights e em 2012, o governo paquistanês concedeu-lhe o Prêmio Nacional da Paz, que mais tarde foi rebatizado o Prêmio Nacional da Paz Malala, que reconhece a atuação de jovens de menos de 18 anos. Ela também foi à Nigéria para um encontro com o presidente Goodluck Jonathan para pedir a liberação de 200 meninas que estão em poder da milícia muçulmana Boko Haram há mais de seis meses – apenas porque frequentavam a escola, o que contraria a filosofia extremista do grupo.

Em 2013, ela foi nomeada uma das pessoas mais influentes pela Revista Time – neste ano, ela figura entre os 25 adolescentes mais influentes do mundo pela mesma publicação. No mesmo ano, ganhou o prêmio Sakharov do Parlamento Europeu para a liberdade de pensamento e lançou a autobiografia “Eu Sou Malala” em mais de 50 países e em 10 idiomas. Ainda no ano passado, Malala foi cogitada para receber o Nobel da Paz.

No último dia 10 de outubro veio a confirmação do que se anunciava em 2013. Thorbjon Jagland, presidente do Comitê Nobel norueguês, anunciou o Nobel para a adolescente paquistanesa e o indiano Kailash Satyarthi, que luta contra o trabalho infantil. Para Malala, que quer se tornar política para seguir sendo uma porta-voz das meninas e mulheres que não podem ir à escola por motivos econômicos ou religiosos, o reconhecimento é só o começo.

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